A IMPORTANCIA DO SILENCIO
por Alexandre "Shiva" Dias
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Zhuangzi
“O objetivo de uma armadilha de peixes é pegar peixes; quando eles caem na armadilha, ela é esquecida. O objetivo de uma armadilha para coelhos é pegar coelhos; quando estes são agarrados, esquece-se a armadilha. O objetivo das palavras é transmitir as idéias. Quando estas são apreendidas, as palavras são esquecidas. Onde poderei encontrar alguém que se esqueceu das palavras? É com ele que gostaria de conversar”.
Estas sábias palavras foram escritas pelo filósofo chinês Taoísta Zhuāngzǐ no século IV a.C., porém sua sabedoria é mais do que atual.
Fica claro que o Homem ainda concede uma incrível importância ás palavras, ou ainda, como diz a frase popular: “fala, fala, mas não diz nada!”.
Quantas vezes proferimos palavras sem significado em apenas um dia? Por experiência própria, tenho notado que o silencio é mais valioso, e muitas vezes transmite mais idéias que uma ação ou frase completa. Se lembrarmos dos monges, samurais, artistas marciais, lembraremos que todos eles são muito silenciosos. Não apenas porque é conveniente como estratégia marcial, ou por puro estado meditativo, mas porque o silencio nos aproxima do nosso EU. Mas não estou falando do eu EGO. Estou falando do que está além da noção “eu visto”, “eu faço”, “eu uso”; estou falando do âmago primordial, aquele que quando éramos crianças, tínhamos certeza de ser nós mesmos.
Porém, daquela época em diante, fomos ensinados a nos distanciar de nós mesmos. Ensinaram-nos que somos aquilo que vestimos, aquilo que aprendemos, aquilo que pensamos, enquanto na verdade, somos apenas o observador destes fenômenos. Acredito que no fundo, o leitor há de concordar comigo: não é a roupa que faz o homem, mas o homem que faz a roupa.
Parte da culta deste tipo de pensamento está na mídia obsessiva pelo lucro que obtém ao nos vender imagens.
Atualmente, a quantidade de informações acaba nos causado um “overload” mental. Caminhamos na direção contrária do pacifismo mental: cada vez mais nos deixamos ser bombardeado por musicas estressantes, barulhos ensurdecedores, conversas caóticas e mídias agressivas. Não estou julgando que o progresso seja negativo, muito pelo contrario, é um processo necessário. Porém, cada vez mais o silencio se torna raro.
Desde o começo do século passado, a quantidade de informações que o ser humano vem sendo obrigado a absorver cresceu enormemente. Convido o leitor a comparar os comerciais da época do começo do século com os atuais. A busca por lucro vem tornando estes veículos de informações em armas de distorção mental em massa:
Este é um comercial da Década de 40
Repare como a informação é fluida e calma.
Este é um comercial atual:
Onde a agressividade é estimulada.
Este é um exemplo do que se espera do “overload” de informações no futuro. Este vídeo foi retirado do Jogo Metal Gear Solid 4
Mesmo que você não entenda inglês, conseguirá pegar a mensagem, pois esta está fora das palavras.
O primeiro comercial, apesar de calmo, apela para o sentimento família. O Valor da necessidade e da beleza.
O segundo comercial, apela para a agressividade que já esta incutida em nosso lado irracional. E para isso ainda agrega uma marca.
O terceiro comercial, apesar de fictício, tenta bombardear você com um excesso de informações e ideais físicos. Ele apela para a auto-imagem.
Apesar de diferentes, todos essas propagandas são capazes de realizar um feito: fazer você não pensar. Todos eles apelam para os impulsos. Em uma mente onde não há silencio, o impulso é reagido com a ânsia de consumo, e o produto é comprado, muitas vezes para ser utilizado inutilmente.
Voltando a Zhuangzi,
“(...) O objetivo das palavras é transmitir as idéias. Quando estas são apreendidas, as palavras são esquecidas. Onde poderei encontrar alguém que se esqueceu das palavras? É com ele que gostaria de conversar”.
Fico a pensar, em quantos protocolos, palavras e etiquetas utilizadas seriam desnecessárias se o homem cultivasse o silencio interior e o amor como transmissão de idéias? As palavras seriam meramente veículos de informação.
O importante não é a palavra em si, mas sim o que ela quer dizer. Para muitas pessoas, a palavra “Eu te amo” pode causar um grande desconforto mental e sentimental. Para outras, pode simplesmente fazê-las se apaixonar também. A palavra é apenas palavra, o que vale é o sentimento que vem com ela.
Para finalizar deixo outra passagem de Zhuangzi:
“Quando um arqueiro faz tiro ao alvo, sem nenhum objectivo, emprega toda a sua perícia. Mas se o objectivo é ganhar um prémio qualquer, nem que seja uma taça sem valor, fica nervoso. E se o prémio é de ouro, então fica meio cego ou vê dois alvos: Fica fora de si ! A sua perícia não mudou. Mas o prémio divide-o. Preocupa-se. Pensa mais em ganhar do que em atirar. E a necessidade de ganhar impede-o de usar toda a sua perícia.”
Não seria ótimo se estivéssemos sempre em contato com nosso EU? O Silencio é ... Tudo
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
A IMPORTANCIA DO SILENCIO
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