quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O longo Inverno.

Desde que um ser humano nasce ele busca pela sobrevivência, isso é do próprio instinto de qualquer espécie que pretenda perpetuar gerações futuras. Mas de todas as raças presentes na terra só a raça humana alterou para si mesma o conceito de sobrevivência para o de segurança. Ao nascer uma criança precisa de informação e sua mente é bombardeada com sensações e ilusões já criadas pela própria sociedade, sem uma capacidade de discernimento plena ela tem suas escolhas feitas ao invés de fazer suas escolhas, e arquétipos pré moldados e conceitos fabricados por eras são embutidos em sua rudimentar e inocente mente. Esse é o primeiro passo.

Após ter o poder de fazer escolhas ainda é limitada por sua idade, por estar inserida num sistema viciado em dinheiro/trabalho/entretenimento/segurança/alienação que torna sua vida mais saudável e tranqüila. Seu pai quer que o filho tenha a sua profissão, mas a sua mãe quer que seu filho seja melhor que seu pai, se for uma filha essa recebe o veneno destilado de sua mãe e os piores aspectos do lado feminino, fruto de uma sociedade hipócrita e machista.

No decorrer de sua adolescência o agora jovem começa a se questionar, a se rebelar e a questionar, se torna um aborrecimento, por querer fazer aquilo que talvez seus pais não tiveram coragem para fazê-lo, logo a sociedade vai frustrá-lo e mostrar que sem dinheiro sua opinião não tem valor, e ainda ensinará que não é sua opinião que vale realmente, nem ele mesmo, mas o dinheiro que ele tem. As primeiras decisões sérias e de reflexos permanentes e conscientes surgem como grandes dilemas para quem não tem instrução necessária para lidar com tudo isso.

Ao se tornar adulto, suas escolhas são feitas e sofre as conseqüências delas, mas infelizmente é tarde demais para ser alguém, pois agora o ciclo emprego - dinheiro - contas limita todo seu potencial, já se passou muito tempo para ter opinião, para ser mais um numa multidão de "uns", os problemas são maiores e as conseqüências mais graves ainda e os anos passam mais rápido, mas não é o relógio que tem menos números e sim o adulto que tem mais problemas, e quando chega a idade de descansar?

Não será agora que você vai mudar o mundo, sua aposentadoria vai torná-lo um parasita dos mais jovens, ou será até uma justa contribuição por tudo que você passou para chegar nessa idade, se chegar, e se chegar é um campeão, sobreviveu a guerras, assaltantes, doenças, drogas e a própria sociedade, mas todo aquele vigor que você tinha até chegar nessa idade foi levado pela sua sociedade. O inverno é mais frio e o cinza é mais escuro...

Por fim de todas as espécies sobre esta terra a única que conseguiu transformar a necessidade de sobrevivência em certeza de aniquilação foi a mais racional de todas. Claro não vamos dizer que esta tudo perdido, nós só estamos exterminando etnias, explorando nosso próprio planeta, matando uns aos outros por papel, se perdendo entre as inúmeras verdades dos infinitos profetas do mundo e tudo que sobra é dormir tarde e acordar cedo, pois é preciso trabalhar no da seguinte.
Caro e paciente leitor, isso não é um manifesto de revolta, muito menos uma crise de personalidade, mas tão somente e só alguns poucos fatos da vida observados do ponto de vista de alguém que vive um longo Inverno. Mas de todas as coisas, a mais perfeita que existem no universo é a natureza que desde sempre nos ensina lições para toda uma vida sem dizer uma única palavra - e esta é a ultima mentora que a nossa própria raça quer nos tirar, sem muito sucesso.
As estações passam, esse Inverno é longo mas um dia desfrutaremos novamente da Primavera.